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Precisamos falar de (re)começos

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Quando penso em recomeço já me vem uma ideia de fracasso. Não sei para você, mas para mim a ideia de recomeçar sempre soou como algo negativo, como se eu não tivesse “dado conta” de alguma coisa, como se eu tivesse feito alguma escolha errada. Por isso sempre evitei recomeços e, de alguma maneira, por um certo tempo deu certo. A partir do momento que fiquei consciente no meu tratamento pensar em recomeçar era algo assustador. Automaticamente me gerava uma crise de ansiedade, pois eram inúmeras perguntas e hipóteses em questões de segundos. - O que vão pensar? O que eu vou conseguir fazer? Será que vou conseguir? Vou fazer o que da vida?  Não sei o que quero!  Eu tenho que querer alguma coisa? E minha família? – Como eu vou agir quando me encontrarem? Eu acho que quero fazer outra faculdade... E todo o dinheiro e tempo que já investi. Estou velha para recomeçar. E se isso, também, não der certo?  Não vale apena arriscar... Cuidar de casa, voltar a trabalhar, sorrir, ser feliz,

Precisamos falar de Julgamento Alheio

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- Você não acha que toma muito medicamento? - ( Acho) - Por que você não sai de casa? – (Porque tenho síndrome do pânico) - Você tem que começar a ver as pessoas! – (Eu iria adorar ver as pessoas o problema é que não é uma opção minha ter ou não uma crise) - Você tem que tomar o remédio antes de passar mal – (Já tomo vários ao longo do dia) - Você não está com cara de doente – (Obrigada) - Você é muito nova para estar com essas coisas – (Já disse que não é uma opção minha) - Vamos sair? - (Não consigo sair de casa sozinha) - Você já pensou em fazer um tratamento com ervas medicinais? – (só estou esperando legalizar rsrs) brincadeira - Hum... que estranho! Você sai para alguns determinados lugares...- (sim. Locais em que eu não tenho crises ou que me deixam tranquila e é assim que estou tentando voltar a ter uma vida social) - Acho que isso é frescura – (Não faz ideia de como eu queria que fosse!) - Eu já passei por coisas bem piores e não tenho essas c

Precisamos falar de relações afetivas

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Eu escrevi alguns começos para esse texto, tanto mentalmente quanto agora, na frente do teclado, e o engraçado é que eu não consigo transcrever em palavras o que tem na minha cabeça sobre esse tema; talvez porque esse tema esteja tão impregnado no meu cotidiano ainda. Sempre dei um jeito de estar perto da minha família e amigos, porém, desde que tive a primeira crise, algumas coisas transformaram isso. Com a minha sanidade mental, também foram embora os “amigos”, e eu não estou falando de cinco ou seis amigos, eu estou falando de 98% dos meus “amigos” e, quando eu falo em “amigos”, falo em pessoas que eu realmente acreditei que tivesse uma relação sincera de amizade, pessoas que eu convivia, pessoas que eu achava que estariam comigo quando eu precisasse. No início, isso não fez muita diferença, pois meu cérebro estava concentrado em sobreviver, mas, depois de alguns meses, eu percebi que não existia essa relação de amizade e que aquele clichê “ amigos para festa tem vários,

Precisamos falar em desacelerar

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Sempre fui uma pessoa muito intensa e tinha orgulho em dizer coisas do tipo: “Comigo é 8 ou 80” “Ou é isso ou não é” “Fria ou quente, nada dessa coisa de morna” “Agora ou nunca” Na minha adolescência, quando fiz 14 anos, já comecei a trabalhar. Não pelos meus pais me obrigarem – na verdade, eles sempre deixaram claro que o meu estudo deveria estar acima de qualquer coisa –, mas porque era bem mais interessante eu conseguir meu dinheiro e já ter uma certa independência. Desde esse período eu já fazia o malabarismo de conciliar estudos com a responsabilidade de um emprego. Um pouco depois eu percebi que isso “fazia com que a sociedade me respeitasse”, a impressão era que eu estava fazendo o que era esperado de mim. Sai do ensino médio direto para uma graduação. No período da graduação continuei trabalhando para bancar meus estudos, no último ano eu já estava exausta, com o trabalho de conclusão do curso, trabalho, estagio e projetos. Foi nesse momento que tive meu p

Precisamos falar de Bipolaridade

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O nome bipolar não era um nome que me causava estranheza, pois quando era adolescente usava esse termo para me dirigir a minha irmã que cada momento do dia estava com um humor diferente. Por ironia do destino quem recebeu o diagnóstico de bipolaridade fui eu. Porém mesmo sem saber bem o que era bipolaridade na minha adolescência eu já tinha noção da ideia principal deste transtorno que é alteração do humor. Desde que comecei o acompanhamento com a psiquiatra, em meio a tantos distúrbios, o diagnóstico de bipolaridade sempre esteve presente. A bipolaridade atinge em média 2 milhões de pessoas por ano no Brasil e, de maneira mais bruta, significa um distúrbio associado a alterações de humor que vai da depressão à episódios de obsessão. Porém, na prática a bipolaridade não é tão simples como uma alteração de humor. Essa alteração de humor acontece de uma forma que interfere efetivamente na vida de pessoas que tem o contato com o transtorno diretamente e indiretamente. As a

Precisamos falar de saúde mental

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Durante meus 25 anos de vida já tinha conversado e lido alguma coisa sobre depressão ou ansiedade. Porém, até então, nunca tinha parado para pensar em saúde mental. Depois de inúmeros transtornos psíquicos, obviamente eu comecei a procurar mais sobre saúde mental ou sanidade mental. E observei que na maioria das definições esse termo é usado para definir o tipo de qualidade de vida cognitiva ou emocional e, enquanto pesquisava sobre, achei tão simples a definição perto da complexidade do assunto.   Como já falei em outras publicações, eu sempre me achei um pouco ansiosa, porém nunca dei muita importância pois pensava: quem não é ansioso hoje em dia? Porém, no ano de 2016 o meu corpo começou a dar alguns sinais de que minha saúde mental não ia bem. Óbvio que eu ignorei esses sinais, e acredito que por falta de conhecimento sobre o assunto. Esses sintomas giravam em torno de pálpebras tremendo em alguns momentos do dia, noites de insônia, palpitações no peito, dores de cabe

Precisamos falar de suicídio

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Talvez você se identifique ou comece a compreender como funciona com as pessoas que tem limitações reais para continuar vivendo da maneira que viviam. A primeira paulada óbvia é que não, o mundo não vai parar porque você está doente. Os seus compromissos não irão continuar ali esperando o momento adequado para você resolve-los. Você vai perder diversos momentos importantes na sua vida e na vida de outras pessoas. Algumas pessoas vão se afastar de você, seja porque não sabem lidar com o seu problema, porque não querem lidar com o seu problema ou várias hipóteses que podemos formular. Você vai perder as coisas que até então tinham muita importância para você e que no mundo da sua imaginação você não poderia viver sem. No meu caso perdi o meu apartamento, meus moveis, minha vida naquele local que eu tanto sonhei, que eu pensei em cada objeto, cada quadro, cada almofada, que era o local que me trazia paz. Perdi, pois não tinha como eu morar sem vigilância 24 horas por dia e não ti