Precisamos falar em desacelerar

Sempre fui uma pessoa muito intensa e tinha orgulho em dizer coisas do tipo:

“Comigo é 8 ou 80”

“Ou é isso ou não é”

“Fria ou quente, nada dessa coisa de morna”

“Agora ou nunca”

Na minha adolescência, quando fiz 14 anos, já comecei a trabalhar. Não pelos meus pais me obrigarem – na verdade, eles sempre deixaram claro que o meu estudo deveria estar acima de qualquer coisa –, mas porque era bem mais interessante eu conseguir meu dinheiro e já ter uma certa independência. Desde esse período eu já fazia o malabarismo de conciliar estudos com a responsabilidade de um emprego. Um pouco depois eu percebi que isso “fazia com que a sociedade me respeitasse”, a impressão era que eu estava fazendo o que era esperado de mim.

Sai do ensino médio direto para uma graduação. No período da graduação continuei trabalhando para bancar meus estudos, no último ano eu já estava exausta, com o trabalho de conclusão do curso, trabalho, estagio e projetos. Foi nesse momento que tive meu primeiro insight de que era a hora de DESACELERAR, cheguei a comentar com alguns amigos e com a família. Porém abandonei a ideia, afinal, o que a sociedade ia achar de mim se ficasse “sem fazer nada durante o dia”?  Prometi para mim e para minha mãe que, assim que me formasse, iria ficar 3 meses sem trabalhar para descansar e colocar a cabeça no lugar. Mas, antes mesmo de me formar, já tinha conseguindo o meu primeiro emprego como professora e obvio que eu não recusei, afinal, quer sensação melhor que ver seu trabalho sendo reconhecido?

Estava eu, com meus 21 anos, formada, iniciando um mestrado fora do país, com emprego garantido e muito feliz em estar respondendo toda a cobrança para ser uma pessoa bem-sucedida. O próximo passo era comprar um carro, morar sozinha, ficar noiva, casar e todas essas coisas que pensamos ser o ideal. Continuei nesse ritmo até perceber que não estava mais dando conta. Assumir que as coisas estavam muito pesadas e eu precisava abrir mão de algumas coisas era algo que ia contra a tudo que tomei como objetivo. Cheguei a comentar novamente com alguns amigos, familiares e colegas de trabalho que eu ACHAVA que tinha que DESACELERAR e a resposta de 99% deles foi

“para com isso menina”, “aproveita enquanto você é nova e não tem filhos”, “Olha onde você chegou, sabe quantas pessoas queriam estar aqui e você está desistindo disso...”

Refleti e achei que realmente que as pessoas estavam certas e eu tinha que continuar naquele ritmo, não era o momento de desacelerar, afinal tinha minha casa, meu carro, meu emprego e um status social a manter... sem dúvida não foi a opção certa. 

Projetamos uma vida “perfeita” e acreditamos estar CORRENDO atrás disso e não podemos parar até chegar ao nosso objetivo...

Mas quando vamos chegar a esse objetivo? Quando vai ser a hora de parar?

Se você ainda está no ensino médio e não sabe o que vai fazer, não encane com isso, tá tudo bem. Se tem 15, 16, 17... anos fique tranquilo a maior parte das pessoas também não sabiam o que fazer. Se você está com 25, 30, 35... e também é cheio de dúvidas, que ótimo!  Se você namora há 15 anos e ainda não casou, qual o problema? Se não tem sua casa, seu carro se não é um “exemplo” para a sociedade, que se dane!

Você é dono do seu tempo, não deixe que te limitem em rótulos ou te projetem expectativas que não são suas. Você é único e deve ser o único que conhece seus limites...

Lembra do que eu falei lá no começo de ser intensa? Hoje eu gosto de ser morna, gosto de ser o meio termo, gosto de pensar que se não deu hoje, amanhã vai dar e se não der não tem problema...

Uma das coisas que fazia em momentos de crises era tentar escrever e externizar aqueles sentimentos, vou deixar um dos poemas que fiz e que eu acho que descreve um pouco meu desespero com o “dar conta” ...

“Eu vejo os dias passarem

Os minutos se acumularem

As tarefas não se realizarem

Eu paro, respiro e espero

E nessa correria

Já se foi mais um dia”

Nathália Hammes