Precisamos falar de suicídio



Talvez você se identifique ou comece a compreender como funciona com as pessoas que tem limitações reais para continuar vivendo da maneira que viviam.
A primeira paulada óbvia é que não, o mundo não vai parar porque você está doente. Os seus compromissos não irão continuar ali esperando o momento adequado para você resolve-los. Você vai perder diversos momentos importantes na sua vida e na vida de outras pessoas. Algumas pessoas vão se afastar de você, seja porque não sabem lidar com o seu problema, porque não querem lidar com o seu problema ou várias hipóteses que podemos formular. Você vai perder as coisas que até então tinham muita importância para você e que no mundo da sua imaginação você não poderia viver sem.
No meu caso perdi o meu apartamento, meus moveis, minha vida naquele local que eu tanto sonhei, que eu pensei em cada objeto, cada quadro, cada almofada, que era o local que me trazia paz. Perdi, pois não tinha como eu morar sem vigilância 24 horas por dia e não tinha como manter o apartamento e o tratamento. Então a única opção que tivemos foi me mudar para a casa da minha mãe.
Perdi uma das minhas maiores paixões que era lecionar. Muitas vezes reclamei de diversos pontos sobre o meio educacional, porem o amor pela sala de aula e pelos meus alunos era algo que me fazia sentir amor pela vida.
Perdi a formatura da minha irmã, perdi aniversários, perdi muitos amigos, perdi minhas referências e minhas certezas.
Perdi o meu casamento. HOJE seria a véspera dele. E para o meu desespero estava tudo marcado, convites de padrinhos entregues, fornecedores fechados, vestido escolhido, lua de mel programada.
E perdi a minha vontade de viver, principalmente quando comecei me dar conta que eu não tinha controle nenhum sobre a minha vida.
Inúmeras vezes pensei em suicídio e outras inúmeras vezes dentro desses 8 meses eu tentei o suicido. Na minha cabeça era a única opção viável. A dor da perda era (é) tão grande que eu não sabia mais lidar com aquilo tudo. Me lembro de algumas vezes minha mãe ou alguém da minha família chegar no momento exato, ou no início da tentativa e quando eles conseguiam me controlar a única coisa que eu fazia era chorar e implorar para que eles me deixassem, que era essa a minha vontade. Hoje isso não é fácil. Não é fácil de assumir e nem de aceitar que eu tentei de alguma maneira o suicídio
Foi nesse momento que minha família me abraçou, chorou comigo, sofreu comigo, se assustou, me mostrou a realidade e deram as mãos para me ajudar. Minha família foi insistente e, quando eu já tinha desistido de mim, eles me mostraram que não era assim que eu ia conseguir segurar tudo isso e que eu tinha inúmeros motivos para continuar vivendo.

Para muitas pessoas, o que eu vivo não é nada. Para outras é impensável a dor de tudo isso. A dor é sua, as pessoas podem sofrer e se sensibilizar, mas a dor é só sua. E acredite, você, assim como eu, é sim capaz de seguir em frente, de deixar suas crenças e certezas caírem e continuar vivendo.

Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil.

De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado hoje (21/09/17) pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2015, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres.
É muito difícil conversar sobre isso em uma roda de amigos, com a família e até em silêncio com você mesmo. Precisamos tirar esse assunto da zona do tabu e falar sobre isso, falar sobre SAÚDE METAL.
Quanto mais fecharmos os olhos, quanto mais medo sentimos ou quanto mais tenebroso acharmos que é esse assunto, mais pessoas estram com medo, com vergonha, se sentindo culpadas pelos pensamentos.
A única maneira de ajudar é se soubermos, se notarmos, se nos sensibilizarmos....

Este mês estamos na campanha de conscientização da prevenção ao suicídio, o SETEMBRO AMARELO. A campanha tem como objetivo alertar a população brasileira e mundial da REALIDADE do suicido e de alguma maneira ajudar as pessoas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e atenção de quem está à sua volta.

FALAR É A MELHOR MANEIRA !!!!!
PROCURE AJUDA!
NÃO TENHA VERGONHA!
NÃO TENHA MEDO!

Setembro Amarelo-  http://www.setembroamarelo.org.br/

Comentários

  1. Só tenho uma coisa para dizer: EU TE AMO!!! O amor é o único remédio para todas essas dores, pois se te abraçamos e estivemos ao seu lado esse tempo todo, foi por amor.

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  2. É realmente um grande tabu falarmos de suicídio. Acho que quando acontece, o sentimento das pessoas próximas é de frustração e vergonha, porque tomamos para nós toda a responsabilidade. Acredito que por isso ainda seja tão difícil falar do assunto, porque machuca, dá a impressão de que não foi feito o suficiente, mas isso é só parte da equação. Obrigado pela coragem e desprendimento de compartilhar com a gente o que é mais íntimo para você.

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  3. Esse assunto trás uma reflexão a todos nós. Tenho empatia por você nane mas jamais vou saber o quanto dói todas essas perdas. Porém você está fazendo algo incrível, pois escolheu dividir e trazer a reflexão de todos esses assuntos ! Isso é o real significado de resiliência. Além do amor que tenho por você, sinto muito orgulho desse seu movimento.

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