Precisamos falar de (in)sensibilidade médica.
Lá estava eu depois de 3 dias sem entender nada,
sem saber o que estava acontecendo com meu corpo, pois ele tremia, suava,
ficava gelado e na minha mente centenas de coisas passavam ao mesmo tempo. Eu não tinha mais controle algum sobre o meu
corpo e menos ainda sobre a minha mente.
Sempre tive um "medinho" de ir ao médico, e jamais na
minha vida tinha passado pela minha cabeça que teria que me consultar com uma
psiquiatra. Eu via o psiquiatra como algo que estava fora do meu mundo, que essa
coisa de consulta psiquiátrica só acontecia quando alguém ia ser internado ou
coisa do tipo. Mas lá estava eu subindo o elevador para chegar ao consultório
de um psiquiatra e naqueles segundos enquanto o elevador subia eu pensava:
1 – Tem muita gente dentro desse elevador.
2 – Acho que vou ficar sem ar.
3 – Eles estão me olhando?
4 – Pelo menos cheguei a minha salvação e a
psiquiatra vai conseguir acabar com isso tudo.
Bom, nenhuma das coisas citadas acima estava realmente
acontecendo. No elevador só tinha eu, minha mãe e mais alguém. Não, eu não
estava sem ar. Sem dúvida naquele momento nem minha mãe estava me olhando, pois
tenho certeza que estava concentrada o suficiente nas orações dela para que
desse tudo certo. E definitivamente aquela psiquiatra
X não era a minha salvação.
Quando chegamos no andar do consultório, para o meu
desespero o consultório era no final do corredor e eu nunca tinha visto um
corredor tão grande.
Não me recordo de muitas coisas que aconteceram
nesse período, principalmente quando efetivamente eu surtava, porém me lembro
nitidamente desse dia.
Lembro que não consegui esperar do lado de dentro
do consultório, pois estava tendo um início de ataque de pânico, lembro quando
a secretaria chamou meu nome e entramos na sala da psiquiatra X.
A psiquiatra me olhou, tentou manter um diálogo
comigo e isso não aconteceu, pois eu apenas chorava e pedia para que ela de alguma
maneira me ajudasse. Ela fez algumas perguntas, falou que eu estava ansiosa e
que isso ia passar. Quando me perguntou sobre o trabalho, comentei que já tinha
voltado a trabalhar, então ela falou as seguintes frases:
- Nossa você voltou a trabalhar faz 1 dia e já está querendo atestado médico?
- Acho que o
seu caso não é para afastamento.
- Porque não
para de trabalhar?
-Já que está passando mal antes de começar.
Em 15 minutos a consulta acabou e ela receitou um
medicamento X para tomar caso eu tivesse muito ruim.
Eu conseguia dormir 2 a 4 horas por dia, não estava
comendo, sentia medo 24 horas por dia, pensava que estava tendo um ataque cárdico
a cada hora, não conseguia tomar banho, não conseguia nem tomar um copo de agua
sozinha. Eu apenas chorava, gritava, me debatia e pedia para minha mãe me
ajudar, pois não estava mais aguentando aquilo.
Não estava conseguindo digerir o que a médica tinha
falado, eu sabia que não era frescura, não era possível que tudo aquilo era
frescura...
E por isso
quero deixar claro que é extremamente importante o acompanhamento da família nesse
processo. Minha família não se conformou com o que psiquiatra tinha falado
e começaram uma busca incansável para encontrar um médico que atendesse na
mesma semana.
Foi quando encontramos a psiquiatra Y, que ficou 2 horas conversando comigo (1:30 eu fiquei
chorando) conversou com a minha mãe, tentou de alguma maneira acalma-la e
sempre me olhava falando que iria ficar tudo bem. Ela passou o número do
celular e disse que qualquer coisa era para ligar e correr para o consultório.
Me recordo que sai da sala dela e dei um abraço tão forte e disse obrigada.
Porém eu não queria ir embora, queria ficar do lado dela.
Nesse período eu ia à psiquiatra 1 a 2 vezes por
semana e minha mãe mantinha o contato com ela.
Obvio que ela não chegou a um diagnóstico no
primeiro mês, na verdade só chegamos a um diagnóstico 6 meses depois, e falo
nós porque sei que o paciente é uma parte atuante nesse processo. Também sei
que se tratando da complexidade dos transtornos mentais fica muito difícil você
chegar a uma resposta assertiva de tratamento logo no início.
Depois de um tempo, ouvi diversas histórias de
pessoas que passaram por essa infeliz experiência com profissionais que não
tiveram o mínimo de sensibilidade, em clinicas, no INSS, médicos do trabalho
entre outros.
Porém também achei importante ressaltar que existem
sim, médicos que tratam as pessoas na sua especificidade e estão ali para fazer
o seu trabalho de forma humana, sensível e exercendo a medicina de forma consciente
e responsável.
ANSIEDADE NÃO É FRESCURA
PÂNICO NÃO É FRESCURA
DEPRESSÃO NÃO É FRESCURA
BIPOLARIDADE NÃO É FRESCURA
O QUE VOCÊ OU ALGUÉM QUE VOCÊ CONHECE SENTE NÃO É
FRESCURA
POR FAVOR, VAMOS OLHAR COM MAIS CALMA E
SENSIBILIDADE PARA AS PESSOAS QUE ESTÃO OU PASSARAM POR ALGUM PROBLEMA...
Felizmente há médicos sensíveis à doença de seus pacientes, que com seu olhar humanizado ajuda muito quem está do outro lado, tanto o paciente quanto a família, lugar que como mãe eu.me inclui. Acompanhando minha filha Nathália Hammes desde o início, com a segunda psiquiatra fiquei mais tranquila e confiante. Pude sair da ignorância e entender como ajudar minha filha. Ao contrário, a primeira médica mostrou-se insensível e alheia ao problema, e o pior, sem a menor ética só permitir que sua secretária tivesse acesso ao prontuário e aos e-mails de seus pacientes. Por isso precisamos falar sim sobre a (in)sensibilidade dos diversos profissionais da área da saúde, enaltecendo aqueles que honram sua profissão e denunciando os que só estão preocupados com o valor da consulta.
ResponderExcluirÉ absurdo a banalização do que sentimos. Esses profissionais jamais deveriam atuar, nunca é frescura o sofrimento psíquico . Ainda bem que não são todos assim e você hoje é atendida por um profissional que realmente te acolhe!!!
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